terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

O religioso e a falsa espiritualidade

Podemos recapitular e resumir o que vimos até aqui.

Algumas estratégias com relação aos nossos próprios pecados e a refutação bíblica em Romanos:

- o do hedonista fanfarrão, que justifica ou ignora o mal com o intuito de se auto-satisfazer. "Você é indesculpável" diz Paulo, há conhecimento suficiente de Deus na natureza e da lei moral em seu coração para que você não ignore a Sua existência e viva a seu bel prazer.

- o judicialista ou inquisidor que assume o papel do juiz e, enquanto acusa e condena, pensa poder distrair Deus de si mesmo. "Você é inescusável" - você não pode se desculpar com base no outro, você não tem autoridade e ficha limpa para ser Juiz, você também está sobre juízo.

Mas há uma outra escusa possível. A do legalista. Este termo se refere àquele que busca justificar-se com base na sua capacidade de atender a lei de Deus, de cumprir Seus preceitos e ordenanças. É o sujeito religioso, de conduta ilibada, o campeão de santidade.

No capítulo 2 e início do 3 vemos Paulo falar do judeu que tinha pelo menos 3 elementos como pilares de sua fé e que pervertidos se tornaram o alvo de suas vidas, suas glórias e motivos para se terem por justos diante de Deus.

1) a genealogia, o ser judeu - "tu que tem por nome judeu". De fato, havia bênçãos em ser de um povo com uma história de intervenção divina, de grandes homens de Deus, de um sistema de leis dadas por Deus. Mas o só ser judeu nunca foi e não era fator para se auto-proclamar justo. Deus não escolheu somente dos judeus para ser povo dele. Deus não é um Deus tribal, Ele é o criador, o Deus de toda a terra e tudo o que nela se contém (Salmo 24). Israel foi escolhido por Deus para mostrar a Sua misericórdia e exaltar o Seu amor. Israel não era o povo mais numeroso, nem mais forte, mas Deus o escolhera, o menor e mais fraco, para mostrar o Seu poder e amor, mas também para abençoar todas as nações.

O problema é que havia dentre os judeus quem via a escolha de Deus como uma escolha pelo mais capaz, por aquele esforçado e sofrido povo que conseguiu sobreviver. E passaram a vangloriar-se de ser judeu, achar-se auto-suficientes pela sua herança genealógica e histórica. Um salto na evolução, os vitoriosos da lei do mais forte.

2) a Torá - "que repousas na lei". A lei dada por Deus em seus 10 mandamentos, sintetizavam o amor a Deus acima de todas as coisas e o amor ao próximo como a si mesmo e como consequência do primeiro. A lei não era algo para descansar, um amuleto religioso, são a perfeita e ativa lei de Deus, mas também o regulador que demonstra a necessidade de um parâmetro externo para nos lembrar o que é certo e o que não é. Diante da lei de Deus os judeus deveriam perceber como eles eram maus cumpridores dela e o quanto precisavam de Deus e de sua misericórdia. Mas o que faziam? Se arrogavam conhecedores da Lei e por isso uma classe especial, irretocável. Só que eram incapazes, como de fato todos somos, de cumprí-la totalmente e em todos os momentos. Sim, mas quem saberia? Talvez alguns, mas, absolutamente, Deus sabia.

3) a circuncisão - era a marca instituída por Deus para celebrar o pacto dEle com Israel, a partir da liderança masculina. Era um sinal, um símbolo que possuía seu significado, mas que, assim como um batismo ou uma tatuagem, não tem o poder de mudar o ser de quem o assume, mas só de expressar ou sinalizar uma realidade maior.

Os judeus para aceitar alguém de fora no seu povo e religião requeria a circuncisão, mas Deus os aceitará não por causa da circuncisão, mas por sua graça.

A necessidade de cumprir o rito era maior do que a necessidade de um coração marcado por Deus. Aquilo que era um sinal externo deveria ser precedido de um sinal interno: a circuncisão do coração.

Poderiam haver incircuncisos que procediam de acordo com a Lei de Deus, enquanto, circuncisos que a transgrediam.

Na história do patriarca dos judeus, Abraão, o que veio antes? A circuncisão? Ou a fé? Um coração confiante em Deus? Ou uma marca para Deus ser obrigado a dar passagem na bilheteria? Lembra, Paulo: "Abraão creu em Deus e isto lhe foi imputado por justiça".

Sua origem, sua religião e suas obras são os paradigmas que precisam cair. Sua auto-ajuda, sua auto-espiritualidade e sua auto-salvação não servem.